Exageros na Inteligência Artificial

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Resumo:

As promessas da inteligência artificial tal como são retratadas na ficção e na mídia são muito exageradas. Não estamos próximos de desenvolver uma próxima espécie, cujos seres fossem independentes de conexão com a imensos servidores para Petaflops de cálculos. Criar robôs tal como seres-vivos que co-existam como humanos é campo da ficção. A Inteligência Artificial só avançará em automação (aplicabilidade) e força bruta (melhor hardware, mais velocidade), como sempre foram os avanços na computação. Os impactos que ela gerará na sociedade são todos derivados do fato de um computador testar opções mais rápido que os humanos em ambientes controlados.

2016 foi o ano do re-surgimento da inteligência artificial na mídia, principalmente na mídia americana. Discutia-se grande revolução na indústria, saíram relatórios da probabilidade de certas profissões serem automatizadas, a possível extinção de diversos empregos e áreas de competência, o consequente desemprego de boa parte da população (desde o desemprego generalizado da classe média até mesmo a substituição de prostitutas por máquinas) e o que se poderia fazer quanto a isso. Preocupados com esse problema houve até mesmo a proposta de UBI (Renda Básica Universal), a qual muitas pessoas acreditam ser a única opção possível para resolver o problema.

Também se falou em direitos para robôs, sugeriram proibições em acordos internacionais de robôs com autonomia para matar. A União Européia inclusive já discute esse tipo de legislação

Ellon Musk alertou quanto os perigos do surgimento de uma super-inteligência artificial e declarou que a humanidade só poderia sobreviver a isso depois de fundida e melhorada por componentes eletrônicos. Para isso, anunciou o que chama de Neuralink, que propõe ser uma interface direta entre o cérebro humano e computadores [1].

Os progressos e discussões sobre inteligência artificial são rastreáveis em 2015, algumas demonstrações de resultados em vídeos até 2013. No entanto, foi em 2016 que isso se tornou mainstream, ao menos na mídia americana.

Contudo, é muito difícil acompanhar o estado da inteligência artificial acompanhando as matérias jornalísticas. Isso por duas principais razões:

  • Primeiro que o assunto em si não é trivial. Existem poucas pessoas que realmente trabalham com inteligência artificial ou mesmo que estudem realmente o tema.

  • Segundo que há muito hype envolvido na área, o que favorece todo tipo de hipérbole e exagero estrito. Portanto, é altamente provável que a maioria dos jornalistas que escrevem sobre o tema não tenham a menor capacidade de analisá-lo e muito menos de escrever sobre ele.

Como consequência, é muito provável que boa parte da alta sobre o tema se deva a isso, e não de avanços reais da tecnologia.

Quanto a questão do trabalho, nenhum emprego sumiu para robôs em 2016. Tampouco houve uma descoberta tecnológica que pudesse ser a razão de todo esse hype. [2]

Praticamente todo o avanço que realmente causa surpresa se deve ao uso de algoritmos de aprendizado em bancos de dados gigantescos, que só foram possíveis muito recentemente, tanto pelo surgimento de gigantes de cloud computing, quanto pelo fato que, com a popularização dos smartphones cada vez mais os usuários abrem mão da privacidade e entregam todo tipo de dado. Assim, quando o sistema surpreendia por saber algo que os criadores não esperavam, não se devia a ele ter criado inteligência em si, mas por ter um conhecimento incrivelmente vasto. [1] [2]. Se assim o for, a aplicabilidade das inteligência artificial tem limite nas bases de dados que os humanos conseguiram organizar. Dependem em suma, do conhecimento que existe nos training sets, pois evoluirão proporcionalmente a estes, até uma possível estagnação: até o limite de onde a espécie humana consiga organizar; Até não haver nada mais a acrescentar aos bancos de dados. Não haveria singularidade.
Toda essa insistência no tema parece se manter pelo fato dos pesquisadores estarem satisfeitos com a entrada de dinheiro em suas pesquisas [2], tanto pelo fato que há governos e entidades transnacionais interessadas nessa fluxo de notícias como instrumentos de controle [1]. Há muita política envolvida em U.B.I. e alterações de legislação.

Quanto ao futuro, acredito que não haverá toda a automação prometida. Muitos terão medo de botar decisões importantes a programas que "aprendem e mudam”. Quando se automatiza com um algoritmo ele pode ser explicado, os riscos compreendidos, eventuais bugs corrigidos, e culpados responsabilizados por erros muito graves. O mesmo não pode ser dito de sistemas que provém do processamento de databases titânicas, donde nenhum algoritmo claro pode ser extraído, analisado e consertado como em programas convencionais. [2] [8]

Eu acredito, porém, que sistemas especializados , principalmente os competitivos continuarão a evoluir. Creio que todo e qualquer jogo será dominado por máquinas, e todo adversário humano será, um dia, derrotado nesses jogos. Isso se deve ao fato dos jogos serem ambientes muito restritos, onde fazer um brute-force sempre valerá a pena. Se não há poder computacional para tal jogo, haverá posteriormente.

Basicamente todas as vitórias recentes se devem ao fato da máquina poder utilizar força bruta sem comparação, tanto na vitória do Watson no Jeopardy (2011) quanto na vitória do AlphaGo vencendo o campeão de Go (2016) relembrando o que houve com o DeepBlue. Watson estava ligado a uma rede de vários servidores, conectados ao google para ajudar a responder as perguntas (força bruta com base de dados de proporções astronômicas) e o AlphaGo, além de se aproveitar do conhecimento de partidas prévias, teve a oportunidade de iterar milhões e milhões de jogos, coisa que nenhum humano, por mais dedicado que fosse, teria tempo. E creio que é nisso que consiste a vantagem das máquinas sobre os humanos.
O nome de “Inteligência Artificial” ajuda a complicar o assunto porque traz à tona discussões filosóficas difíceis de definir precisamente. O que é inteligência? O que é consciência? O que é entendimento? O que difere exatamente essas coisas?

Há quem diga que pensar seja apenas manipular símbolos, tal como as máquinas de Turing. Porém entendimento e consciência não o são. Tentar simulá-los não resolveria o problema, uma vez que simulações sobre fenômenos químicos, não retém as propriedades das reações. Simular consciência não gera consciência assim como simular a geração de energia não gera energia. [3]

Aristóteles define o humano como o ser que sabe que sabe. Este é, inclusive, o nome de nossa espécie: Homo Sapiens Sapiens. Computadores e algoritmos de inteligência artificial, contudo, apenas sabem. [4]
Estamos infinitamente longe de criar uma espécie, super-inteligência e singularidade.
Não há avanços em em Artificial General Intelligence (AGI). E nada disso acontecerá no meu tempo de vida. Muitos gênios precisam nascer, trabalhar em suas teses e morrer antes que o conhecimento necessário para tais feitos seja alcançado. Se é que tais feitos são possíveis.

Referências

[1]AI the Hoax of the Century -
(https://medium.com/@Romanor/ai-hoax-of-the-century-8f2cb7b853a3, acessado dia 30/10/17)
[2] Artificial Intelligence was 2016's fake news - Andrew Orlowski - 2 de Janeiro de 2017 -(https://www.theregister.co.uk/2017/01/02/ai_was_the_fake_news_of_2016, acessado dia 30/10/17)
[3]A neuroscientist explains why artificially intelligent robots will never have
consciousness like humans - Bobby Azarian - 31/03/2016 - (https://www.rawstory.com/2016/03/a-neuroscientist-explains-why-artificially-intelligentrobots-will-never-have-consciousness-like-humans/, acessado dia 30/10/17)
[4]Chinese Room Argument - John Searle - 1980 (https://plato.stanford.edu/entries/chinese-room/)(https://en.wikipedia.org/wiki/Chinese_room)
[5]Mark Zuckerberg expõe o futuro da tecnologia na conferência F8 2017 - 18 Abril de 2017 (http://nerdofilia.com/mark-zuckerberg-conferencia-f8-2017/, acessado dia 30/10/17)
[6]É ridículo como as ‘modas’ digitais se tornam um paraíso para oportunistas no Brasil. Eis a verdade sobre elas - Luciano Palma - 9 de Junho de 2017 (http://projetodraft.com/e-ridiculo-como-as-modas-digitais-se-tornam-um-paraisopara-oportunistas-no-brasil-eis-a-verdade-sobre-elas/,
acessado dia 30/10/17)
[7] Chefe de AI do Facebook: “estamos longe de criarmos máquinas inteligentes” - Claudio Yuge 26/10/2017
(https://www.tecmundo.com.br/software/123536-chefe-ai-facebook-estamoscriarmos-maquinas-inteligentes.htm, acessado dia 30/10/17)
[8] Intelligent Machines :The Dark Secret at the Heart of AI - Will Knight - April 11, 2017 (https://www.technologyreview.com/s/604087/the-dark-secret-at-the-heart-of-ai/, acessado dia 30/10/17)

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