A economia só não é algo previsível por causa dos efeitos externos ao mercado, que criam uma situação de extremo ruído. Se os agentes econômicos se comportassem dentro dos axiomas de racionalidade ou racionalidade limitada, ambos baseados na otimização de seus ganhos pessoais, as previsões seriam ainda complexas, porém bem mais precisas.
A China é uma obscuridade total para qualquer analista, que tente prever para aonde o mercado está caminhando, exatamente por ter um sistema econômico... digamos híbrido, para não dizer bizarro. Tente colocar numa mesma frase Comunismo e Mercado, certamente você não precisa ter lido “O Capital” para saber que isso não faz nenhum sentido, porém é quase como a China se intitula como um “Socialismo de mercado”. E isso é ruido abeça! Por basicamente dois motivos:
O risco do autoritarismo Chinês no planejamento de qualquer entidade econômica e seus investidores, e suas divergências de objetivos (Lucro individual Vs Ideologia comunista); e
Limite claro entre aonde existe mercado e aonde não existe mercado, e consequentemente quando e como as regras do jogo podem mudar.
Um Estado maior que a economia
Sinceramente se não fosse todo o poder do Partido Chinês e sua possibilidade de impulsionar a demanda mundial, via baixos custo de mão de obra e energia, como também o total controle social, seria impossível imaginar uma economia de mercado tão dinâmica, que não para de crescer há muitos anos. Pois a falta de uma economia livre, e princípios capitalistas básicos não seriam capazes de sustentar uma economia tão pujante assim.
Vejamos o caso de sucesso da Coreia do Sul, na qual o Estado aliou-se a burguesia capitalista e famílias montaram impérios como a Samsung, Hyundai, entre outras, que embora exista uma ação forte do Estado, os princípios básicos do capitalismo se mantiveram, como a liberdade de acumular e do direito a propriedade privada, que criaram uma economia forte e pujante, em um país com muito menos recursos que a China. Na Coreia as regras do jogo eram bem estabelecidas, incluindo até aonde o Estado poderia agir, e ambos com o mesmo ideal, a busca da prosperidade e da riqueza.
A China por meio de empresas como a Evergrande impulsionou sua economia e a economia mundial com a demanda de commodities para o seu setor imobiliário. Diversas cidades foram criadas, sem que houvessem habitantes, apenas para aquecer a economia no curto prazo, e fornecer moradia para as novas classes sociais em acessão na China no longo prazo. Porém, embora muitas pessoas estejam subindo de classe social na China elas não estão procurando essas novas moradias, porque elas preferem estar próximas aos lugares aonde trabalham, e tem acesso a bens e serviços de maneira mais fácil, outro problema é a queda no aumento das famílias Chinesas.
É nesse ponto que devemos ser críticos na intervenção Estatal, quando o Estado toma a iniciativa individual, que deveria ser acompanhada pelo mercado, e cria distorções, por meio da incapacidade do cálculo econômico. Em vez de fornecer suporte aos empreendedores e consequentemente aos trabalhadores, tomando para se a responsabilidade majoritária no planejamento econômico, acaba por colocar ainda mais risco no empreendimento.
Uma nova crise econômica
A Evergrande tem aproximadamente $ 300 bilhões em passivos, mais do que qualquer outra incorporadora imobiliária no mundo! E agora com toda essa estrutura fadada ao fracasso, caberia ao governo Chines intervir para salvar não só a empresa, mas a economia mundial, todavia é o próprio governo Chines que está retrocedendo e diminuindo os recursos ao setor, visto o insucesso do empreendimento.
Notem que isso é muito contraditório, afinal o Estado criou a bolha e o próprio está gerando fragilidade, que pode vir a estourar essa bolha… E essa omissão do governo Chines, até o momento, está deixando o mercado financeiro com sérios temores. Via efeito contágio, caso o governo Chinês não faça nada, certamente teremos uma grave crise econômica por insolvência de diversas companhias, assim como em 2008. Porém como um impacto possivelmente maior, pois o mundo está alavancado, por causa da pandemia.
O mercado cripto desabaria novamente, muito próximo ao rebaixamento de mais de 60% do BTC na crise provocada pela pandemia em março de 2020. Porém com os bancos centrais possivelmente sem mais condições de intervir na economia a retomada deve ser mais demorada. O BTC e as demais criptomoedas superaram rapidamente a crise de 2020 por conta desses estímulos, e ainda não está claro quanto poder de fogo os bancos centrais ao redor do mundo ainda teriam caso essa nova crise econômica surgisse.
Conclusão
Confesso que já estou tomando providências quanto a isso, aumentando minha exposição ao dólar, não muita coisa obviamente, até porque meu investimento é de longo prazo, outro motivo é que basta uma canetada do Xi Jinping e as coisas voltam ao normal, mas por via das dúvidas, uma parte dos ganhos desse ano estarão dolarizadas via o aumento do risco do mercado. Vamos torcer para que o governo Chinês faça a coisa certa…
Por fim isso não é uma recomendação de investimento, tomem as suas próprias decisões e sintam-se à vontade para fazer comentários sobre esse texto.