O que temos a aprender com a América Central?

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3 years ago

Por Renan Dalvi.

Recentemente estive pensando acerca da América Central; como anda aquele amontoado de países minúsculos que pouco chama a atenção do mundo?

Decidi reunir diversos dados fornecidos por instituições de reconhecimento internacional, a fim de comparar os dados brasileiros com os dados dos países centro americanos. Os dados recolhidos foram organizados em uma tabela.

Os países selecionados foram escolhidos da forma mais simples e preguiçosa possível: foram escolhidos de acordo com a lista "oficial" de países da América Central segundo a Wikipédia. Em um sentido mais amplo, a região abrange mais países, mas para uma breve análise, sem muito aprofundamento, esses são mais que suficientes.

Antes de tudo, é preciso explicar o que as cores representam. Nos retângulos verdes há números melhores que os brasileiros; nos retângulos vermelhos, números piores. Quanto mais intensa a cor, mais distante o respectivo número estará do nosso, seja para melhor ou pior. A cor cinza escura representa a inexistência do dado para aquele país.

O primeiro conjunto de dados são do Banco Mundial. Nessa tabela foram reunidas as colocações de cada país em cada um dos onze índices fornecidos. Em nove deles, a colocação média dos países da América Central se saiu melhor. Costa Rica, Jamaica e Panamá se sobressaíram. A desconhecida ilha de Santa Lúcia também surpreendeu.

O segundo conjunto de dados são trazidos pela Heritage, e mede o grau de liberdade econômica dos países. Novamente, nossos colegas tiveram uma colocação média superior à nossa. Esse índice é medido a partir de algumas variáveis, e resolvi reunir sete delas. Quando se fala em carga tributária, saúde fiscal, liberdade trabalhista e liberdade comercial, eles levam vantagem. Inclusive, à exceção de Cuba, todos os países, em geral, possuem números muito bons, melhores que os nossos.

O próximo item é inusitado. Decidi destacá-lo apenas pela curiosidade que ele desperta. A Receita Federal brasileira mantém uma lista dos chamados "paraísos fiscais". Segundo a definição trazida pela própria lei, são incluídos nessa lista "países ou dependências que não tributam a renda ou que a tributam à alíquota inferior a 20% (...) ou, ainda, cuja legislação interna não permita acesso a informações relativas à composição societária de pessoas jurídicas ou à sua titularidade". Me chama a atenção o fato de ser muito importante para a RF saber quem anda tributando o mínimo possível e respeitando o anonimato de sua população. Divagações a parte, nessa tabela receberam “1” os países que fazem parte da lista e “0” os que não fazem. Ao final, vemos que 50% deles são cruéis e malvadões aos olhos da nossa Receita.

Infelizmente, o próximo item não traz tantos dados, portanto teremos uma visão menos detalhada dos fatos. Segundo o Trading Economics, tanto o salário médio quanto o índice de desemprego de alguns deles são muito melhores.

Saindo do campo econômico e indo para o campo social, vamos ver alguns dados trazidos pela ONU.

Sobre o IDH, o Brasil é relativamente melhor que boa parte dos demais países estudados. Eles ganham da gente apenas no tempo médio de escolaridade.

A Taxa de Migração Líquida, que é a diferença entre quantas pessoas entram e quantas saem do país, tem algo interessante para ser observado. Primeiramente, há uma diferença nessa tabela (e apenas nela) quanto ao significado das cores: quanto mais positivo o número, mais verde será seu retângulo; quanto mais negativo, mais vermelho; quanto mais próximo de zero, mais clara (mais esbranquiçada). Dito isso, vamos aos fatos: o Brasil sempre foi, de certa forma, uma referência ao mundo. Sendo assim, sempre teve uma taxa de migração positiva. Mas os últimos dados mostram que a migração tem diminuído. A projeção para 2100 (que resolvi não expor na tabela mas pode ser conferida no link da referência) mostra essa tendência de queda. Já para a América Central, que sempre esteve "fora da rota", apesar de possuir uma taxa negativa (há mais pessoas saindo do que entrando), tanto o continente em si quanto a maioria de seus países apresentam uma forte queda nesse número nos últimos anos. A projeção para 2100 revela essa tendência de exportar cada vez menos pessoas.

Por fim, quanto aos dados sobre violência, a América Central se mostra menos violenta no geral. Especificamente nessa categoria, eu queria muito ter trazido dados sobre violência sexual, roubo (com uso de violência), assaltos e sequestros, mas a fonte simplesmente não traz dados referentes ao Brasil, o que torna impossível a comparação.

Observando todas essas informações, o que podemos concluir? Tanto o Brasil quanto a América Latina possuem muito a melhorar. Estão longe de serem os melhores lugares do mundo para se viver e empreender. Porém, a América Central se sai melhor que a gente em muitos setores, e veja que possuímos algumas semelhanças como:

  • Países emergentes;

  • Mesmo clima;

  • Em suas amplas extensões territoriais, o mesmo idioma é falado (português no Brasil e espanhol na America Central).

  • Boa relação com o restante do mundo (são países amigáveis, não criam tantos conflitos).

Mesmo o Brasil tendo uma área muito maior, nossos amigos latinos possuem uma coisa que nós não temos: a subdivisão em países menores. Por serem um monte de países pequenos, com idioma, cultura e condições geográficas parecidas, acaba ocorrendo ali uma competição indireta entre eles. Por que um empresário abriria uma empresa em um ambiente tão hostil aos negócios como o Haiti, se ele pode simplesmente se instalar no Panamá, por exemplo? Porque um trabalhador estrangeiro, em busca de um melhor salário e uma melhor qualidade de vida, iria para a Nicarágua, se ele pode ir para a Costa Rica?

Não possuímos essa mesma competição no Brasil. Cada lei infundada, cada decisão judicial errada e cada regulação engessada é distribuída a todos por igual. Se o cidadão não vai com a cara do presidente em vigor, azar! Terá que esperar 4 anos para tentar a sorte novamente. Se o governo cobra cada vez mais impostos, fugir dessa tributação é impraticável. Para não falar no distanciamento entre o governo e o cidadão; como o presidente em Brasília vai saber quais são as reivindicações de quem mora em Roraima, no Acre e no extremo sul do Rio Grande do Sul e satisfazer todos? É impossível!

Se quisermos ter avanços na redução da pobreza e no bem-estar de cada indivíduo, precisamos agir na luta pela descentralização do poder, almejando acabar com a indissolubilidade da república. A independência de cada estado é o primeiro passo na luta contra leis absurdas, regulações prejudiciais, carga tributária abusiva, governantes autoritários e distantes da realidade e de seu povo; a separação dos estados é o primeiro passo em direção à nossa liberdade individual.

Fontes:

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3 years ago

Comments

Parabéns pela pesquisa, nós brasileiros geralmente esquecemos dos vizinhos latino-americanos, exceto no caso dos paraísos fiscais usados por muitos para pagar menos impostos :-) Valeu! Aliás, abri uma comunidade Brasil (https://read.cash/c/brasil-b00c) aqui no Read.Cash, qdo quiser participar, fica a vontade. Saúde, sucesso e boa sorte mais uma vez!

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3 years ago