Fiquei agradavelmente surpreendido pela vaga de indignação contra Israel e o apoio generalizado aos palestinianos. Por um breve instante, ninguém pareceu temer o maldito rótulo para quem ousa tecer a menor crítica a um membro do Povo Escolhido por Deus™:
Antissemita
Um rótulo por sinal curioso, tendo em conta que os judeus são apenas um de vários povos semíticos, e uma boa parte deles nem isso são.
De qualquer forma a palavra tornou-se o escudo perante qualquer crítica ou reparo, algo equivalente a "racista" ou "nazi" mas apenas para aquele grupo em concreto. Não é qualquer religião/etnia que tem direito a uma palavra própria, atenção.
Aliás, a ligação entre antissemita e nazi é tão forte que são muitas vezes utilizadas como sinónimos. Afinal de contas, quem ousa apontar o dedo a um judeu, seja pelo que for, é literalmente Hitler. Curioso, portanto, o apoio generalizado que recebem da direita em vários países. André Ventura, o nosso nazi de estimação, é categórico ao proclamar o seu apoio a Israel.
Claro que, ainda assim, esta foi a primeira linha de defesa dos Israelitas e seus aliados. Perante os comentários de Erdogan, nos quais acusava Joe Biden de "escrever a História com as mãos ensanguentadas" pelo seu apoio a Israel, os EUA apontaram-lhe de imediato o dedo, acusando o presidente turco de antissemitismo.
Ainda antes de Israel andar plasmado nas notícias, o mesmo aconteceu a uma figura do nosso país. No início deste ano, o coronel Rodrigo Sousa Castro, ilustre Capitão de Abril, foi linchado publicamente após tecer um comentário sobre o poder económico que os judeus exercem a nível mundial, e que Israel alavancou para assegurar um stock bem aprisionado de vacinas numa altura em que os países ocidentais ainda se engalfinhavam para ver quem as recebia primeiro.
O embaixador de Israel em Portugal partiu para o insulto barato, chamando-o de "antissemita primitivo" e "racista ignorante". O Ventura foi recentemente condenado em tribunal por chamar bandidos a alguns moradores do bairro da Jamaica - um dos quais acusado e condenado por vários crimes, o que faz dele efetivamente um bandido em qualquer acepção do termo. Por outro lado, um embaixador - representante oficial do seu país - desata a insultar uma figura nacional com impunidade, e é o insultado que mais tarde vem pedir desculpa.
O barulho chegou aos EUA, com o lobby AJC a mostrar-se "horrorizado" com as "conspirações antissemíticas" do coronel.
No lado da imprensa, Esther Mucznik, a judia residente do jornal Público, saltou-lhe logo em cima numa série de artigos consecutivos, fazendo render o peixe.
Nenhum destes ilustres críticos se dignou a refutar os argumentos do coronel Sousa Castro, para lá de simplesmente dizerem que "não são verdade". Antes limitaram-se a gritar antissemitismo. O grito de guerra do judeu é fazer-se de vítima e lembrar perseguições passadas.
Aliás, é precisamente através desse prisma que este povo nos é apresentado. Perfazendo uma percentagem minúscula da nossa população, a esmagadora maioria dos portugueses apenas os conhecerá das aulas de história, primeiro aquando da expulsão do nosso território por El-Rei Dom Manuel I, e mais tarde, já no séc. XX, a propósito do Holocausto.
Detetam a semelhança? Os dois momentos em que se falam de judeus são de perseguição injusta e extermínio à mão dos malvados racistas. A história começa a meio, nunca se abordando os motivos que os levam a ser perseguidos em primeiro lugar, o porquê de não se integraram na maioria dos países para onde emigraram ao longo da história, levando a que sejam expulsos de praticamente todos eles. Se o meu filho for expulso de uma escola, pode ser perseguição. Se for expulso de 100, começa a ser estranho.
E no entanto nem as expulsões, nem o quase extermínio à mão dos nazis, conseguiram impedir a escalada rumo ao sucesso deste povo extraordinário, como é evidente no país onde melhor se estabeleceram - os Estados Unidos da América.
Perfazendo apenas 1,5% a 2% da população, constituem no entanto 35% dos multimilionários norte-americanos, e uma percentagem desproporcional do gabinete do presidente eleito Joe Biden. Aliás, se há coisa que Joe Biden e Donald Trump têm em comum - achavam que não havia uma única coisa? - é o facto de todos os seus filhos/as que se casaram, terem-no feito com cônjuges judeus. A probabilidade estatística ajoelha-se perante o hebreu.
Todo este poder político e económico é colocado a uso no apoio a Israel. Lobbys como o AIPAC (American Israel Public Affairs Committee) ou o American Jewish Comittee acima mencionado há muito que se infiltraram na política americana com o único intuito de a voltar para o apoio - social, económico e militar - a Israel.
Tem dado resultado.
Num país com tensões políticas no ponto de rutura, o apoio a Israel parece ser a única constante. Republicanos e Democratas digladiam-se com unhas e dentes sobre virtualmente todo os assuntos à face da terra, mas numa coisa estão de acordo - os EUA têm de ajudar Israel.
Os EUA também suportam Israel com bens mais tangíveis que apoio moral, enviando todos os anos milhares de milhões de dólares em "ajuda". Já com Joe Biden no poder, o apoio proposto a Israel em 2021 é de 3,300 milhões de dólares, já para não falar na recente venda de armamento avaliada em 735 milhões de dólares, que é um literal atirar de lenha para a fogueira do conflito.
Lobbys como o AIPAC conseguiram convencer o povo americano de que Israel é o seu aliado estratégico no médio oriente, e portanto deve ser defendido a todo o custo, mas a realidade é o exato oposto: sem o dinheiro e o apoio militar dos EUA - que combatem as guerras de Israel por procuração - este pequeno país ilegalmente plantado já teria desaparecido há muito.
Olhando para trás, é fácil ver que a Guerra ao Terrorismo não beneficiou muito os EUA, para lá de encher os bolsos das empresas de armamento e construção civil. Gastaram-se milhões de dólares e milhares de vidas humanas. Para os países ocupados, foi catastrófico. A queda de Saddam lançou o Iraque no caos que permitiu o posterior aparecimento do Estado Islâmico - que, curiosamente, nunca atacou Israel.
Quem beneficiou, então? A resposta é clara. De repente, todos os inimigos que há anos vinham a ameaçar Israel, foram invadidos por uma força estrangeira - e sem qualquer custo para eles. Isto sim, é fazer guerra!
"Israel é o nosso único aliado no Médio Oriente", continuam a dizer alguns americanos. Meu, antes de haver Israel, vocês nem sequer tinham inimigos no Médio Oriente!
É por estas a por outras que os comentários do coronel Sousa e Castro não são de todo descabidos, nem uma maluca teoria da conspiração. Os judeus são desproporcionalmente poderosos, e usam esse poder em seu benefício.
Esta última observação poderá parecer um autêntico truísmo. Qualquer povo procura acima de tudo o seu benefício - isto é, exceto os brancos que se autoflagelam pelos pecados da escravatura e colonialismo - mas os judeus levam isto a novos extremos.
Como dizia Esther Mucznik, a jornalista do Público que mencionei acima, "sou portuguesa, judia e sionista." Se Portugal e Israel entrassem em guerra, pergunto-me de que lado ficaria.
No seu livro The Culture of Critique, o último de uma trilogia voltada para o estudo do povo judaico, Kevin MacDonald postula que os judeus se distinguem pelo seu "hiper-etnocentrismo", uma preferência desmesurada pelo próprio grupo em detrimento de "forasteiros" (ou goyim, para utilizar o hebraico). Isso ajuda a explicar o apoio, direto e indireto, que tantos judeus pelo mundo fora demonstram por Israel - um país estrangeiro com o qual a maioria não tem qualquer ligação exceto aquilo que percecionam como um elo étnico e religioso.
Os cristãos lideram as tabelas de perseguições por motivos religiosos, mas quando há um atentado no Sudão ou na Somália, nenhum cristão europeu ou americano parece muito incomodado. Israel é criticado como no comentário do coronel, e judeus pelo mundo fora gritam em protesto.
Já dentro das suas fronteiras, os Israelitas lutam incansavelmente por mudar a perceção do seu país no resto do mundo. Tornar-se embaixador é o emprego de sonho para um Israelita, mais importante que ser presidente do próprio país. Todos aqueles que não o conseguem podem sempre tornar-se guerreiros de teclado atrás de um ecrã na Jewish Internet Defense Force, infiltrando redes sociais para mudar o tom do discurso a seu favor.
Entretanto, enquanto escrevia este artigo, houve lugar a um cessar-fogo, e com os ânimos a acalmarem-se são cada vez mais as vozes que se erguem contra o Hamas e em defesa do direito de Israel a se auto-defender.
Talvez a opinião pública tenha mudado numa questão de dias, ou talvez sejam os guerreiros da JIDF a trabalhar.
Seja como for, se há conclusão que podemos retirar de tudo isto é que os judeus são de facto um povo incrível. Por um lado ricos, poderosos e influentes, unidos a nível global por um sentido comum de pertença ao mesmo grupo étnico e religioso seja qual for o país onde cada um reside, e capazes de afetar as políticas estrangeiras de nações onde são apenas uma percentagem da população.
Por outro são vítimas indefesas, vivendo apavorados de radicais de extrema-direita e teóricos da conspiração, temendo que a qualquer momento possam ser vítimas de um novo Holocausto. E se a ameaça não existir, inventa-se, como quando a ADL inventa estatísticas para vender a ideia de que os judeus enfrentam ameaças atrás de cada esquina ou aqueles judeus que pintam suásticas na sua própria casa e fazem queixa à polícia.
Talvez ninguém lhes tenha dito que não se pode ser vítima e opressor ao mesmo tempo. Ou talvez nada esteja para lá do alcance do excecionalismo judeu.