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[PT] iConversa (Desconversando): Pensamentos fúnebres à volta do trono dourado
Texto com perversão gramatical de género propositada, em concordância com a atual moda linguística de inventar palavras no feminino ou de colocar discursos no género neutro, talvez importado do inglês.
Antes que avance, seja pré-avisada de que, caso venha a sentir-se baralhada com alguma das ideias expressas no texto que se segue, é normal. O autor é um artista avant-garde de l'Art du Baralhisme.
Hoje, como sempre, acordei parvo. Assim o sou, assim o fui e assim o serei. Sou parvo logo existo. Pouco antes de me dirigir, por rotineira necessidade, ao trono dourado que alguém da alta burguesia como eu detém, ocorreu-me a seguinte interrogativa, tão repugnante como qualquer outra obra-prima da Arte do Falangismo Neoliberal-Conservador Ultrassónico-Silencioso merece ser adjetivada:
"Porque raio é que o senhor Ministro da Justiça, de etnia maioritária e opressora branca, não nomeou a procuradora Ana Carla Almeida para a procuradoria europeia? Já que não dá valor ao mérito, poderia ganhar alguns votos impondo uma quota que forçasse a compensação da falta de justiça associada à falta de mulheres em altos cargos hierárquicos, pois Angela Merkel, Kaja Kallas ou Christine Lagarde não contam. O Senhor Ministro Van Dunem provavelmente será machista. Se um dia o apanhar na rua digo-lhe: Oh Senhor Ministro Van Dunem, o seu machismo não passará!"
Estando já sentado e em preparativos no meu áureo trono, encadeou-se no meu apedeuta imaginário um segundo regurgitar:
"Porque é que, desde Bruxelas, não se impõem quotas que permitam equilibrar a balança de governantes europeus para, assim, a Marine Le Pen conseguir chegar à presidência da França? Já basta de serem homens a mandar no mundo! Com mais mulheres no poder como resultado de uma política de quotas está mais do que garantido - e comprovado científicamente até - que o mundo tornar-se-irá num lugar bem melhor. Há provas irrefutáveis disso.
Após esta blasfémia mental, prestes a levantar o arrogantemente pousado corpo do meu trono dourado - bela propriedade por mim herdada; pois sim, mérito herdado é igual a mérito conquistado -, pouco antes de rasgar a macia seda que por hábito higieniza, sem puxar qualquer penugem, a minha enrugada mas apertada via escapatória, surgiu-me um último pensamento verborreico:
"Será que eu, de olhos rasgados por genética, de cor de pele ligeiramente menos branca do que a da máxima opressão, devido aos meus repugnantes e pejorativos sarcasmos na forma de palavras, atos e omissões, devido a ter nascido além-fronteiras, reúno as condições para formar um partido facho-indígena, cuja mentalidade de grupo (tão necessária para a sensação de integração social) seja deliberadamente xenófoba ou racista?"
(Texto inspirado, de maneira infeliz, em "A Voz Subterrânea", de Fiódor Dostoiévski. Todos os factos relatados correspondem à realidade, à exceção do trono e da seda. O autor não é proprietário de nenhum trono, quanto mais dourado, pois o trono relatado está incluído no aluguer que paga e o papel é o mais barato do mercado)
Fotografia captada pelo autorFotografia captada pelo autor
Fernando Tona | 12 de março de 2021
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